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Farinha de mandioca em S. Nicolau - Do período de ouro à tradição

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Vila da Ribeira Brava, 05 Jun. (Inforpress) – A cultura da mandioca foi praticada em grande escala na ilha de S. Nicolau, até finais da década de sessenta, na actualidade o plantio é feito em pequena escala e parte do produto é utilizado só para manter a tradição e avivar a farinha de mandioca que custa hoje seiscentos escudos o quilo.


Outrora, em S. Nicolau, a plantação da mandioca só não tinha predominância sobre as culturas do milho e dos feijões. A mandioca cultivava-se em terrenos de sequeiro e dominava uma boa parte das terras férteis dos vales de Fajã, Ribeira Brava, Covoada, Queimadas e Ribeira Prata.

A produção desse tubérculo era de tal monta que não havia mercado para a sua colocação.

A saída para o produto, seria, por conseguinte, a sua transformação em farinha, cuja produção chegou a constituir numa verdadeira indústria para a ilha, gerando, anualmente e durante vários meses, um sem número de postos de trabalho permanente.

A produção iniciava-se logo que o tempo começasse a aquecer, normalmente em Março, e culminava em meados ou finais de Junho, antes das primeiras chuvas. Os maiores proprietários de terras cultivadas de mandioca passavam quatro meses seguidos a produzir farinha, só tirando os domingos para o descanso.

Um só proprietário poderia produzir sessenta quartas (600 litros) de farinha/dia.

O produto era armazenado em grandes depósitos de madeira ou de zinco, alguns dos quais com capacidade para mais de cinquenta alqueires de farinha, ou sejam, mais de duzentas quartas.

Pela sua qualidade, a farinha de mandioca de S. Nicolau ganhou fama a nível nacional e foi considerado durante muitos anos o principal produto de marca desta ilha.

Tal foi a sua fama e projecção em Cabo Verde que deu origem, na época, a uma célebre e satírica coladeira (música tradicional cabo-verdiana) gravada em disco vinil.

Com o desaparecimento das culturas de mandioca nas terras de sequeiro, devido à escassez das chuvas, a indústria da farinha morreu nesta ilha, e com ela desaparecendo a mais importante ou uma das mais importantes actividades económicas que S. Nicolau já conheceu.

Ultimamente, com a crescente produção de mandioca no perímetro irrigado de Fajã, alguns agricultores, com terras beneficiadas com a água proveniente da captação (galeria) existente, têm ensaiado a produção da farinha.

Mas trata-se tão-somente, de produção para uso familiar, uma vez que não há mandioca suficiente para o fabrico da farinha em escala maior.

Segundo apurou a Inforpress, em Maio último, quatro agricultores daquele perímetro irrigado montaram o tacho para a produção da farinha. A quantidade produzida não ultrapassou as cinquenta quartas (500 litros).

Um deles informou à Inforpress que levou à rala para a produção de farinha não mais do que três sacos de mandioca.

“É só para manter a tradição e mostrar aos meus filhos como se faz a farinha”, precisa João Fortes, um dos maiores e mais bem sucedidos agricultores do perímetro irrigado de Fajã.

Nas terras de sequeiro de Pico Agudo e Covoada, não obstante a escassez das chuvas, ainda se vislumbra alguma plantação de mandioca, o que tem levado os seus donos a produzir pequenas quantidades de farinha, com o objectivo, sobretudo, de manter a tradição.

A raridade da farinha de mandioca produzida localmente levou esse produto ao preço do ouro, não acessível, por conseguinte, aos bolsos do cidadão comum.

O litro da farinha está por seiscentos escudos.

Porque se tornou um produto escasso, por certo, já nenhum proprietário de S. Nicolau conquista o coração de uma moça de S. Vicente, com a promessa de engordá-la em farinha de pau, como refere a coladeira acima referida.

CH

Inforpress/fim.

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