Vila da Ribeira Brava, 09 Mar (Inforpress) - Maria Clara Silva, moradora na vila do Tarrafal, festeja hoje cento e oito anos de idade, mas, pelas contas dos familiares, ela não tem menos do que 112 anos.
Segundo a neta Hermínia, Maimana, como a avó é conhecida, tem como único documento de identificação a certidão de baptismo. Informou que ela recebeu esse sacramento da igreja católica no dia 9 de Março do ano de 1901.
A neta de Maimana disse à Inforpress, esta tarde, que a avó se recorda ainda do dia em que fora baptizada. Conta Hermínia que a avó morava em Hortelã e foi a pé com os padrinhos e os pais à localidade de Calejão onde recebera o baptismo. "Levava um vestido branco e fez o percurso a pé", acrescenta.
Refere-se que Hortelã não fica muito perto de Calejão, talvez a uns oito ou mais quilómetros de distância. O caminho que liga uma localidade à outra é irregular e, nalguns pontos, impróprio para os cardíacos, sobretudo quando se sobe a ladeira Calejão/Cabeçalinho.
Hermínia disse ainda que a avó recorda ainda que a bandeja (tabuleiro com ofertas) dos padrinhos, longe das guloseimas e bebidas de hoje, levava batata-doce assada, cuscus e leite.
Maria Clara Silva, com ou mais de 108 anos de idade, é a pessoa mais idosa de S. Nicolau. Seguramente, se não é também mais idosa de Cabo Verde é das mais idosas.
Vive há mais de 20 anos na vila do Tarrafal. Tem cinco filhos vivos, 47 netos, 115 bisnetos e 20 trinetos. Viu morrer dois filhos.
Segundo Hermínia, a avó teve os sete filhos com dois homens e os recorda com saudades. “Ela chora os seus dois maridos”, afirma a neta.
Dos cinco filhos vivos, quatro são mulheres e a mais velha tem 78 anos. O filho varão vive na Holanda.
Das quatro filhas, duas vivem em Hortelã, uma em Angola e outra na vila do Tarrafal. É com esta que ela vive.
Em Hortelã, além das duas filhas, tem uma irmã, que tem mais de 80 anos. Uma segunda irmã viva tem ainda Maria Clara Silva, essa com residência em Canto de Fajã e com idade também acima dos 80 anos.
Hermínia disse que a sua avó goza de uma boa saúde, só sofrendo de uma ferida que tem na perna desde quando era rapariga nova e que, nos últimos anos, a põe na cama com dores e não a deixa movimentar-se facilmente.
A neta afirma que a avó come tudo, embora já não disponha de dentes. “Ela diz que a sua gengiva é rija, por isso come tudo, inclusivamente, cachupa”, acrescenta.
Segundo Hermínia, todos os pratos são preferidos da sua avó, mas adora comer iogurte, que ela chama “coisinha de plástico”.
Quando falecer, Maria Clara Silva não quer que ninguém se vista de preto em sinal de luto.
A neta Hermínia disse que avó quer um funeral alegre, sem choros. Quer ser acompanhada até a sua última morada com música e o caixão transportado por homens, pelo menos, até sair da vila do Tarrafal.
Uma outra recomendação da anciã Maria Clara Silva, segundo a neta, é que não haja aulas para as crianças do seu bairro (Escada) no dia do seu funeral. Deseja que todas as crianças desse bairro se vistam de branco nesse dia e formem um cortejo fúnebre com duas filas paralelas. Cada criança levará uma flor nas mãos e o caixão irá no meio das duas filas. Os adultos seguirão as crianças.
CH
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