O maior estudo genético já feito sobre cães domésticos acaba de mostrar que, no seu ADN, as várias raças de cães são ainda mais parecidas do que se imaginava.
Enquanto a maioria das diferenças de peso e altura em humanos e outros animais envolvem vários genes com efeitos individuais pequenos, nos cães um único gene é responsável por mais de 50% da variação no tamanho do corpo, por exemplo.
Os cientistas conseguiram também apontar o local onde os primeiros lobos foram domesticados: no Médio Oriente, e não no Extremo Oriente, como se pensava. Os investigadores chegaram a esta conclusão analisando excertos de material genético de mais de 900 cães de 85 raças e de lobos do mundo inteiro. Assim, foi possível criar um grande retrato de família, montando uma árvore genealógica da espécie.
O resultado revelou-se inesperado, porque a localização geográfica das raças não parece ter relação com as diferenças genéticas entre elas - ao contrário do que ocorre com espécies que evoluem naturalmente. Afinal, é a selecção artificial humana, não a selecção natural, a principal força a guiar a evolução canina.
As pessoas escolhem os animais que vão sobreviver utilizando critérios como a docilidade, a beleza, a utilidade na caça ou com rebanhos. A selecção artificial faz com que as características da região onde o animal vive não sejam tão importantes quanto a vontade dos criadores na determinação das suas características.
Os cientistas perceberam como a domesticação podia causar grande impacto nos animais na década de 1950. O soviético Dmitri Belyaev, na época, seleccionou por seis gerações as crias de raposa mais dóceis para se reproduzirem. No final, os animais eram ávidos por contacto humano e até ganharam características físicas que os humanos consideram simpáticas, como as orelhas caídas.
A selecção artificial aconteceu com força em dois momentos, diz Robert Wayne, biólogo da Universidade da Califórnia em Los Angeles. Ele é co-autor do estudo, que envolveu um grupo de 36 cientistas e sai na edição de hoje da revista Nature.
O primeiro momento ocorreu no Médio Oriente, quando surgiram cerca de 20% das raças actuais. Foi quando surgiu a agricultura, há 10 mil anos, que os laços entre humanos e cães se estreitaram. “Nessa região, eles são encontrados enterrados com as pessoas. Num caso, um cachorro foi enterrado nos braços de um homem”, diz Wayne.
O outro foi no século XIX, quando passou a ser moda criar novas raças de cães e apareceram 80% das actuais, dizem os cientistas. Na época fortaleceu-se o conceito de “pureza” das raças, surgindo, a partir de então, animais com todo o tipo de comportamento e porte.
A partir da II Guerra Mundial, o pedigree tornou-se mania entre quem queria comprar um cão. O que os cientistas questionam agora é se tal esforço pela purificação das raças é saudável. A falta de variedade genética pode facilitar a proliferação de doenças.
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